Foi frenético. Na madrugada do dia 23 de julho, quem tentou comprar ingressos para os shows do Arctic Monkeys, que acontecem em novembro no Brasil vivenciou o que poderia ser chamado de uma verdadeira batalha. Em minutos, foram-se os ingressos de meia entrada. Horas depois, só sobravam ingressos para quem quisesse pagar inteira – e ainda ver o show de longe. Mas por que esse frenesi todo, digno de show de ex-Beatle? Porque o Arctic Monkeys é o fenômeno indie de maior representação da atualidade – e com louvor!
Tudo começou no Natal de 2001, quando Alex Turner – vocalista do grupo – e seu colega Jamie Cook ganharam guitarras de presente. Dois anos depois, os dois montaram uma banda de covers com os colegas da Stocksbridge High School, onde estudavam. Eram eles Matt Helders, o baterista, e Andy Nicholson, o baixista. Nascia então o embrião daquilo que se tornaria o Arctic Monkeys. Começaram fazendo shows em sua cidade natal, Sheffield, na Inglaterra, e logo deram o próximo passo: a gravação independente de uma série de CDs-demos com músicas próprias, os quais distribuíam em seus shows. Foi essa a grande sacada dos ingleses: distribuídas as demos, foi necessário apenas um pulo para que as músicas caíssem na internet e começassem a rodar o mundo, graças aos fãs e ao compartilhamento de arquivos.
Chamando cada vez mais atenção entre veículos de imprensa importantes, como a BBC Radio, e principalmente no meio musical, com seu rock explosivo, a banda lançou em maio de 2005 o seu primeiro EP, Five Minutes With Arctic Monkeys. Toda a especulação em torno do quarteto inglês, que vinha cada vez mais surpreendendo, acabou lhes rendendo um contrato com a gravadora Domino Records, já no mês seguinte. O sucesso verdadeiro da banda, porém, só foi comprovado com o lançamento da dançante I Bet You Look Good On The Dancefloor, o primeiro single oficial, que subiu direto para o topo das paradas musicais.Dois meses depois,era a hora do grande debut: o primeiro álbum, Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, era enfim lançado. Foi estrondoso. O CD desbancou Definitely Maybe, do Oasis, se tornando o álbum de estréia vendido mais rapidamente na história da música britânica. Foram 120.000 cópias vendidas apenas no dia de seu lançamento, sem contar aquelas que acabaram sendo compartilhadas pela internet. Não é pra menos que o CD arrebatou ainda o Mercury Music Prize do ano (prêmio para o melhor álbum lançado no Reino Unido ou na Irlanda).
O pontapé inicial: o primeiro single, o primeiro sucesso
Ainda em 2006, o quarteto passou por uma transição. Durante uma turnê, o baixista Nick O’Malley substituiria Andy Nicholson apenas temporariamente. No entanto, em junho, Nicholson anunciou sua saída permanente, o que garantiu a O’Malley o posto de baixista oficial, o qual ocupa até hoje. A mudança, no entanto, não afetou o trabalho da banda. Após o lançamento do EP Who The Fuck Are Arctic Monkeys?, veio o segundo CD do grupo. Em abril de 2007, foi lançado o elétrico Favourite Worst Nightmare, rapidamente gravado, já que a banda queria voltar aos shows o mais depressa possível. A pressa, no entanto, não impactou na qualidade do álbum, de modo que a expectativa dos fãs não foi decepcionada. O disco vendeu 225.000 cópias na semana de seu lançamento, além de garantir uma série de prêmios.
Foi em 2007 que o Arctic Monkeys fez a sua primeira apresentação no Brasil. Um Alex Turner um tanto tímido subiu aos palcos do Tim Festival 2007, que passou por São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. A banda lançou mão de um set list recheado com as melhores músicas de seus dois primeiros álbuns. Brianstorm, Fluorescent Adolescent, Fake Tales Of San Francisco, I Bet You Look Good On The Dancefloor e When The Sun Goes Down levaram a platéia à loucura, que cantava até as linhas instrumentais das músicas.
Brianstorm reflete o espírito dos dois primeiros álbuns do AM: juvenil e completamente eletrizante
Neste mesmo ano, antes de lançarem o terceiro álbum, Alex Turner se voltou para outro projeto: a dupla The Last Shadow Puppets, junto com Miles Kane, da banda The Rascals. Outro porém também acabou adiando o lançamento de um novo cd. Durante o período de desenvolvimento do terceiro disco, que contou com a produção de Josh Homme, vocalista do Queens Of Stone Age, e de James Ford, Alex teve o seu caderninho de composições roubados. Mas o que poderia ter sido um grande empecilho, acabou se tornando uma nova oportunidade. ‘’Eu me sentei por horas tentando lembrar todas as letras, mas o processo acabou me fazendo escrever mais coisas, que eu não teria feito se nada tivesse acontecido’’, contou Alex para o portal NME.com. Humbug, o terceiro trabalho da banda, foi enfim lançado em agosto de 2009. O álbum recebeu boas críticas: com nítida influência do trabalho de Homme, se mostrou mais maduro e elegante. Menos explosivo e ao mesmo tempo mais pesado. Os garotos do Arctic Monkeys tinham crescido.
As novas direções tomadas pela banda agradaram bastante, mas os números de vendas não se mostraram tão expressivos, além de nenhuma das músicas do álbum ter entrado nos top 10 do Reino Unido. A resposta foi mais ou menos a mesma em relação ao quarto álbum da banda, Suck It And See, lançado em 2011. As músicas revelavam mais uma vez a maturidade dos ingleses, ainda que tivessem nitidamente um quê de pop-rock. Canções mais calmas como Piledriver Waltz e a faixa que dá nome ao álbum aparecem misturadas com composições de peso como Brick By Brick – cantada pelo baterista Matt Helders – e All My Own Stunts. O equilíbrio do álbum, unido às letras de qualidade fizeram com que sua receptividade fosse muito boa, ainda que os números não dissessem o mesmo.
Cornerstone, a balada romântica de Humbug, mostra que a banda estava pronta para experimentar e crescer
Se Humbug e Suck It and See desanimaram alguns fãs, a euforia voltou com tudo com o lançamento da enérgica R U Mine?, música que antecipava a chegada de um novo disco. Foi neste cenário que a banda desembarcou mais uma vez em terras brasileiras, desta vez para a primeira edição do festival Lollapalooza no país, que ocorreu no Jockey Club de São Paulo, em abril. Debaixo de uma chuvinha chata, confiantes e mais carismáticos do que em 2007, os ingleses fizeram um público de cerca de 60 mil pessoas cantar as letras rápidas e complicadas, apresentando músicas de todos os álbuns. Além disso, se mostraram mais adultos, tanto na postura como no visual, refletindo o amadurecimento de seus álbuns. O vocalista Alex Turner é a prova viva dessa mudança: seu figurino, cuja peça principal é hoje a jaqueta de couro, reflete uma postura bad-boy, combinada com o estiloso topete carregado de gel, bem diferente daquela adotada nos primórdios da banda.
Pode-se dizer que 2012 foi um bom ano para o Arctic Monkeys. Em julho, a banda se apresentou na majestosa cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres. As músicas escolhidas foram o hit que deu início ao sucesso do grupo, I Bet You Look Good On The Dance Floor e nada mais, nada menos, do que um cover de Come Together dos Beatles. O cover teve uma repercussão tão boa que alavancou as vendas de discos do Arctic Monkeys, levando seu primeiro trabalho a atingir o topo das paradas britânicas, seis anos após seu lançamento.
Mas será que isso tudo é suficiente pra explicar o sucesso estrondoso que a banda vem fazendo atualmente? Não, tem mais! Em setembro de 2013, a banda lançou seu mais recente álbum, o minimalista AM. Minimalista só no título, porque suas músicas vieram para tocar MUITO. AM segue a linha dos dois discos anteriores, mas possui faixas mais acessíveis e menos experimentais, o que torna a sua disseminação pelo mundo muito mais simples, vide a quantidade de festas e baladas que tocam incansavelmente Do I Wanna Know? e Why’d You Only Call Me When You’re High?. AM veio não apenas para tornar a representatividade da banda mais intensa, como também muito mais ampla – o que explica o desespero dos fãs na hora de garantir ingressos para os shows do quarteto.
Sucesso absoluto, Do I Wanna Know? mostra porque o Arctic Monkeys vem abalando o cenário musical
Entre altos e baixos, uma das características invejáveis da banda é a qualidade das composições. Por vezes ácidas, por vezes mais suaves, chamam a atenção e são um show à parte, mesmo quando a melodia decepciona. Uma das principais influências de Alex são os poemas de John Cooper Clarke. Foi graças à ele que Alex optou por falar em suas letras sobre situações cotidianas, através de descrições detalhadíssimas, o que é visível nas letras nada fáceis de acompanhar. Além disso, o poema Out of Control Fairground foi impresso dentro do cd-single de Fluorescent Adolescent, tendo sido escrito especialmente para seu lançamento. O clipe da música, foi inclusive, baseado nesse poema. Em AM, essa relação é mais uma vez presente: a excêntrica letra de I Wanna Be Yours é mais uma obra do poeta.
Como nem tudo são flores, a banda foi recentemente associada à um escândalo de sonegação de impostos, que envolveria cerca de 1.600 cidadãos britânicos, entre eles os quatro integrantes e até o cantor George Michael. Segundo informações do jornal The Times, a quantia sonegada pelo quarteto poderia chegar ao semelhante a 4 milhões de reais. O caso não abalou os fãs. Fiéis, estavam à postos na hora de comprar os ingressos para os shows que acontecem no dia 14 de novembro, na Arena Anhembi, em São Paulo e no dia 15, no HSBC Arena, no Rio de Janeiro. A julgar pela velocidade em que os ingressos foram vendidos, espera-se shows verdadeiramente inesquecíveis. Agora, porém, só nos resta esperar! E ah, corre que ainda tem ingresso!
Originalmente em: http://www.lado-m.com/fuck-arctic-monkeys/