Um adeus definitivo ao banjo: o que já sabemos sobre o novo álbum do Mumford & Sons

“Foda-se o banjo”, disse Winston Marshall, guitarrista do Mumford & Sons, em entrevista para a Vulture. A afirmação pode parecer grosseira, mas traduz a vontade inquietante do grupo inglês de fazer algo novo e diferente em Wilder Minds, terceiro disco de sua carreira.

A banda acabou de liberar mais um single do álbum, que tem data de lançamento prevista para o dia 4 de maio. Snake Eyes reafirma a mudança, seguindo as mesmas direções tomadas em Believe e The Wolf, os dois singles lançados anteriormente. Guitarras, sintetizadores e baterias elétricas substituem definitivamente a pegada folk-acústica marcada por instrumentos como o banjo e o acordeão, característica principal das canções dos dois primeiros álbuns do grupo, Sigh No More (2009) e Babel (2012). A mudança foi tão expressiva que as novas músicas chegaram a ser comparadas com composições do Coldplay e do Snow Patrol!

Para o vocalista Marcus Mumford e seus colegas Winston Marshall, Ted Dwane e Ben Lovett, essa guinada – um tanto ousada – deve ser vista como um crescimento e não como uma partida. “É uma saída natural”, contou Lovett a NME. Eles explicam que a forma de escrever não mudou drasticamente, mas que foram guiados por um desejo de não fazer a mesma coisa de novo, “um Babel 2”, como eles definem.

Enquanto nos dois primeiros álbuns, Mumford foi o autor da maioria das composições, em Wilder Minds todos os componentes da banda contribuíram nas letras, colocando inclusive suas próprias experiências pessoais nas criações. Mumford e Lovett desfrutaram de relacionamentos felizes nos últimos anos. Já, Marshall e Dwane viram suas respectivas relações chegarem ao fim, o que enriqueceu diversas composições, entre elas a própria Believe.

Além disso, a cidade de Nova York, onde as músicas foram concebidas, foi fonte de inspiração para várias letras do álbum. “É difícil não ser influenciado por este lugar”, eles contam. O primeiro momento de produção do disco se deu no Ditmas Park, pequeno estúdio localizado no Brooklyn e pertencente a Aaron Dessner, do The National. Dessner, inclusive, colaborou em algumas composições e até chegou a gravar uma faixa com os ingleses.

O álbum foi finalizado no estúdio AIR, em Londres, com produção de James Ford, que já havia trabalhado com Arctic Monkeys, Haim e Florence & The Machine. Ford dividiu a bateria com Mumford, Marshall e Dwane fizeram a festa com suas guitarras elétricas e Lovett completou a harmonia com o teclado. De 40 músicas produzidas, 14 foram escolhidas para compor Wilder Minds, além de 4 versões ao vivo.

Como Lover Of The Light e Dust Bowl Dance, sucessos dos primeiros discos, os singles liberados denunciam que a banda continua, porém, a se aproveitar de uma característica notável: o crescimento gradual das melodias. Believe e a recém-lançada, Snake Eyes, são a prova viva de a banda se mantém fiel à tendência, independentemente dos instrumentos utilizados.

No entanto, é inevitável. Sempre que um artista muda de sonoridade drasticamente, rola aquela tensão entre os fãs. Amantes do banjo podem pensar que o Mumford & Sons se transformou em uma banda completamente nova. As mudanças foram muitas, de fato. Talvez seja preciso se acostumar às novas direções e dar adeus ao charme caipira, que parece ter sido abandonado definitivamente.

Enquanto Wilder Minds não chega para a gente dar o nosso verdicto final, dá uma olhada no tracklist!

Tracklist:
1. Tompkins Square Park
2. Believe
3. The Wolf
4. Wilder Mind
5. Just Smoke
6. Monster
7. Snake Eyes
8. Broad-Shouldered Beasts
9. Cold Arms
10. Ditmas
11. Only Love
12. Hot Gates

Versão Deluxe:
13. Tompkins Square Park (Live)
14. Believe (Live)
15. The Wolf (Live)
16. Snake Eyes (Live)

Originalmente em: http://nafuma.com.br/um-adeus-definitivo-ao-banjo-o-que-ja-sabemos-sobre-o-novo-album-do-mumford-sons/

Review: The Kooks no Lollapalooza 2015

Quando o The Kooks lançou, no passado, Listen, o quarto álbum de sua carreira, uma aura de controvérsia se estabeleceu entre os fãs. Alguns aprovaram os rumos tomados pela banda, com influências de soul e funk por todos os lados. Já, outros – que ouso classificar como a grande maioria – torceram o nariz e deixaram-se levar pelo saudosismo, sentindo falta do estilo musical adotado essencialmente nos dois primeiros álbuns, Inside In/Inside Out (2006) e Konk (2008).

Assim, um show dos ingleses em um festival como o Lollapalooza (que atrai os mais diferentes públicos), durante a turnê do questionável Listen, tinha quase tudo para dar errado. Eu mesma, que até poupei críticas ao álbum, não sabia o que esperar.

Afinal, às 16h30 da tarde do domingo (29), Luke Pritchard e seus colegas, Hugh Harris, Pete Denton e Alexis Nuñez subiram ao palco Onix e entoaram Around Town, um dos singles de Listen. Juntos, os vocais e as batidas da música começaram e ditaram, naqueles primeiros minutos, o clima que coroaria a apresentação do começo ao fim: de muito entusiasmo e muita animação. O público acompanhava os versos e mostrava que, qualquer desagrado em relação às músicas novas foi suprimido pela euforia de ver a banda, que fazia sua terceira passagem pelo Brasil.

Pritchard também apareceu renovado. Não falo, porém, dos cabelos mais curtos e da barba ruiva. O novo Luke de quem eu falo é um Luke que dança e dança pra caramba. Animado, o vocalista soltou vários gritinhos, rebolou muito e soube contagiar a plateia, ora puxando coros e palmas, ora conversando, ainda que sem exageros, com a imensidão de pessoas à sua frente. Afirmou estar feliz por estar de volta ao país e elogiou os “corações calorosos” do público brasileiro. Sua presença de palco unida a músicas dançantes como Bad Habbit, Down e Forgive & Forget fizeram com que as pessoas se rendessem e mostrou que as novas canções funcionam muito melhor ao vivo do que nos fones do celular.

Inevitável, porém, era negar que o coração dos fãs batia mais forte quando a banda entoava antigos hits como Ooh La, She Moves In Her Own Way, Always Where I Need To Be e Sofa Song. Com as câmeras e celulares para o alto, eram as músicas que o público mais se preocupava em registrar, ainda que isso não os impedisse de pular e gritar muito. Quem esperava músicas do terceiro trabalho do grupo, Junk of The Heart (2011), porém, pode ter se decepcionado. Deste disco, a única escolhida para integrar o setlist foi Junk of The Heart (Happy).

Entre tantas músicas animadas, Seaside, música que abre o primeiro disco dos caras, Sway, de Konk e See Me Now, de Listen, reduziram o ritmo da apresentação e renderam os momentos mais bonitos do show, com direito a mãozinhas para cima balançando no compasso de coros apaixonados.

Como esperado, Naïve, um dos maiores – senão o maior – hit da banda fechou o show levando as pessoas à loucura. Fechou também um setlist arriscado. Ao contrário dos americanos do Foster The People, cujo show sucedeu ao da banda inglesa no palco Skol e que, mais prudente, deu mais espaço às músicas de seu primeiro álbum, o The Kooks botou fé em suas músicas novas e ousou. O resultado? Mais que satisfatório. Para a banda e para o público.

Originalmente em: http://nafuma.com.br/

Kaiser Chiefs, Education, Education, Education & War

Conheci o Kaiser Chiefs lendo Veja. Pois é. Lá nos idos de 2008, li a resenha de Off With Their Heads, disco que eles acabavam de lançar. É verdade que, na época, com exceção de uma música ou outra, o álbum não ganhou meu coração. Mas abriu as portas para conhecer os trabalhos anteriores dos caras e consequentemente, os grandes hits da banda, como Everyday I Love You Less and Less, I Predict a Riot e claro, Ruby.

Depois disso, no entanto, acabei esquecendo um pouco deles. O sucessor de Off With Their Heads e quarto disco do grupo, The Future Is Medieval (2011), inclusive, me passou completamente despercebido. Descobri a sua existência apenas alguns meses atrás. Com sua vibe mais experimental, um pouco mais pesada e cheio das batidas eletrônicas – algo um tanto diferente do que a banda costumava fazer -, o álbum dividiu as opiniões da crítica, mas definitivamente, não foi um graaaaande lançador de hits.

Kaiser Chiefs - Education, education, education & War

Agora, no entanto, em meio a excitação pré-show-do-Foo-Fighters, cuja abertura estava nas mãos dos ingleses do Kaiser Chiefs, achei bastante oportuno me dedicar ao quinto e mais recente disco da banda, Education, Education, Education & War, lançado em março do ano passado.

O álbum abre com The Factory Gates e já denuncia umas das características mais especiais do cd: a presença de refrãos poderosíssimos. É o caso não apenas da música que abre o disco, como também de Ruffians On Parade, Bows & Arrows e Cannons. Enérgicas, as músicas retomam a vida dos dois primeiros álbuns e fazem lembrar dos grandes hits do grupo, sendo, na minha singela opinião, até um tantinho viciantes. Igualmente memoráveis, Roses e o single Coming Home são mais calminhas e fazem um bom contraponto, conferindo equilíbrio ao álbum.

De fato, Education, Education, Education & War pode não ser nem o melhor nem o mais excêntrico disco da banda. No entanto, o instrumental se revela senão a cereja, a cobertura do bolo, mostrando ser bastante satisfatório e criativo e lembrando ainda que o grupo faz muito mais do que cantar por aí: “Ruby, ruby, ruby, ruby, aaah, aaaah, aaaaah”. Dou destaque para o solo de guitarra (e as risadas maléficas do vocalista Ricky Wilson) em Misery Company.

O que pode ser um defeito para alguns, para mim é uma qualidade. Realmente gostei do disco como um todo e gostei porque ele não tem pretensões de ser algo extraordinariamente diferente. Education, Education, Education & War mostra quem é o Kaiser Chiefs como banda em sua essência, ou de acordo com o adjetivo estampado na capa do álbum, quem é o Kaiser Chiefs em sua forma mais genuína.

Minhas 5 favoritas:

– The Factory Gates
– Ruffians On Parade
Meanwhile Up In Heaven
– One More Last Song
– Bows & Arrows

 

The Clash, London Calling

Semana passada, nessa maravilhosa jornada de ouvir um disco por dia, me dei a liberdade de dar uma trapaceada de leve. Já conhecia a maioria das músicas do álbum London Calling, do The Clash, mas nunca havia escutado o cd todinho de uma vez, em sua plenitude. Escutar as músicas de um álbum de forma aleatória e ouvi-lo como um conjunto são duas coisas bem diferentes. E é por isso que resolvi incluir este clássico do rock na minha aventura musical.

Banda inglesa, formada em 1976, o The Clash é, sem dúvidas, um dos maiores expoentes do punk rock, ali, juntinho com o Sex Pistols. Jaquetas de couro, rebites, cabelo espetado e uma atitude rebelde construíram muito bem o estereótipo que fazem muitos torcerem o nariz quando ouvem falar de “punk”. O preconceito vai ainda mais longe quando falamos do punk como música. Pensamos, sem hesitar, em algo extremamente barulhento, agressivo aos ouvidos. Associação simples de se fazer, realmente. Porém, rasa. Como qualquer outra coisa, o punk, tanto como gênero musical, ou como estilo de vida, não pode ser generalizado e vai muito além de uma cara de mau combinada a um jeitinho inusitado de pentear o cabelo.

The Clash - London Calling

Falemos de samba, de pop e de rock. Qualquer estilo musical tem fases e o punk também. E foi no começo da trajetória desse gênero – na explosão do punk britânico no final da década de 1970 – que surgiu o The Clash. A banda prova que o punk não é, nem de longe, inaudível, uma vez que seus cds são deliciosos de se ouvir, vide London Calling (1979), terceiro e mais consagrado disco do grupo.

Além disso, o disco comprova também que o punk do início, antes mais cru, foi ganhando influências ao longo do tempo. No caso do The Clash e de London Calling, mais especificamente, podemos notar pitadas dos mais inúmeros (e inusitados!) gêneros. Jimmy Jazz, já em seu nome, denuncia a presença do jazz no álbum. Os riffs iniciais de Brand New Cadillac, por sua vez, nos faz lembrar das bandas californianas de surf rock. The Guns of Brixton e Revolution Rock flertam sem pudores com o reggae (sim, com o reggae!). Já, os metais de Rudie Can’t Fell faz da música um verdadeiro exemplo de como o ska influenciou a banda. A canção chega, inclusive, a me lembrar de Os Paralamas do Sucesso, uma das bandas brasileiras mais conhecidas pela influência deste gênero em suas músicas (e por que não, talvez, influência do próprio The Clash?).

É essa mistura que faz com que London Calling seja tão interessante. O álbum não deixa de ter sua essência punk (na atitude, em melodias mais pesadas – como a da canção ícone que dá nome ao disco – e nas composições, sempre politizadas, discutindo temáticas sociais; dá uma olhada nas letras de Spanish Bombs e de The Guns of Brixton!) mas se sobressai por ser criativo e até, arriscado. Afinal, quem imaginaria que um cd de punk teria um pouquinho de jazz?

Talvez os cds que sucederam o sucesso de London CallingSandinista!, Combat Rock e Cut the Crap – não tenham atingido a mesma qualidade, uma vez que marcam o que viria a ser a decadência da banda. Muito se culpa a mistura de influências nos discos do grupo como causa dessa queda. Talvez tenha sido o próprio London Calling, com sua miscelânea de gêneros musicais, que iniciou esse processo. No entanto, não me atrevo aqui a julgar o álbum por seus pontos positivos ou negativos. Ainda mais quando é impossível negar que o disco não apenas faz parte de um importante capítulo da história do rock, como é um dos cds mais celebrados de todos os tempos. Viva London Calling!

Minhas 5 favoritas:

– London Calling
– Hateful
– Spanish Bombs
– Lost In The Supermarket (mais suave, é um tesourinho dentro do álbum! Vale destacar também que quem dá voz a música não é o vocalista Joe Strummer, mas Mick Jones, o guitarrista)
– Lover’s Rock

Brandon Flowers, Flamingo

Ainda que tenha sido bem recebido pela crítica, Battle Born (2012), o quarto e mais recente cd de inéditas do The Killers, deixou alguns fãs decepcionados. Eu fui um deles. Apesar de ter gostado de Day & Age (2008) – terceiro álbum do grupo e que em muito se assemelha ao seu sucessor – e de entender que, assim como qualquer outra banda, o Killers vinha amadurecendo, parecia que algo estava faltando. E esse algo, para mim, era aquela antiga presença contagiante tão percebida nas músicas dos primeiros discos.

Mas até ai, normal. As bandas crescem, passam por mudanças e nem sempre todo mundo sai feliz. No entanto, ao ouvir Flamingo (2010), primeiro (e por enquanto, único) cd solo do vocalista Brandon Flowers, fiquei pensando no porquê dessa mudança. Teria a banda amadurecido como um todo ou havia algo mais aí?

Não dá para negar. Flamingo lembra muito os trabalhos mais recentes dos californianos, composto por músicas mais melódicas e, por vezes, temperadas com influências country. Além disso, o álbum não me parece muito ambicioso. As composições do disco seguem um linha bem determinada, sem arriscar muito e que, vez ou outra, chegam até a lembrar de melodias infantis. É o caso de Was It Something I Said? e Magdalena. Por outro lado, Playing With Fire e On The Floor, conseguem fazer um bom contrapeso e trazem um pouco da profundidade que faltava ao álbum.

Brandon Flowers - Flamingo

O resto do cd se divide entre músicas medianas (que, pelo menos a mim, não foram motivo de grandes emoções) e canções gostosas de se cantar junto (vide o single Only The Young e Hard Enough, esta com participação da atriz e cantora – de quem já falei aqui – Jenny Lewis). Sem dúvidas, poderia ser mais um álbum dessa nova fase do The Killers (já que, além de manter o estilo musical, segue a tradição de fazer uma espécie de ode a Las Vegas, cidade natal dos caras – a música que abre Flamingo, inclusive, se chama, nada mais, nada menos que Welcome To Fabulous Las Vegas).

Vale lembrar, inclusive, que Flamingo foi lançado durante um hiato da banda entre Day & Age e Battle Borne, de modo que uma discussão sobre quem tem influência sobre quem pode ser levantada. Assim, fica a dúvida: o que realmente acontece? Brandon Flowers não foi muito criativo na hora de voar sozinho ou é ele mesmo quem domina a banda, fazendo valer o seu gostinho?

Minhas 5 favoritas:

– Only The Young
– Playing With Fire (mais lenta, a música tem uma boa evolução e conta com os vocais de Flowers como destaque)
Crossfire
– On The Floor
– Swallow It

 

Jenny Lewis, The Voyager

Meses atrás me deparei com o clipe da cantora Jenny Lewis para a canção Just One Of The Guys. Confesso que só parei e assisti porque a notícia sobre o lançamento do vídeo destacava a presença das atrizes Anne Hathaway, Kristen Stweart e Brie Larson. “Uau”, pensei, “quem é essa tal de Jenny Lewis, pra fazer um clipe com tanta gente famosa?”. E tinha mais: além destas presenças ilustres, o vídeo era todo engraçadinho e contava com a atrizes vestindo perucas, bigodes, agasalhos e bonés, fingindo serem homens. Tudo fazia sentido, dado o nome da canção e sua letra, na qual a cantora reclamava que: não importa o quanto tente ser um dos “caras”, existe algo dentro dela que a impede. Além disso, a música era grudenta: fácil de cantar, o refrão tocava em looping na minha cabeça. Deste então, fiquei um tanto curiosa para descobrir quem era Jenny Lewis, por que eu não tinha ouvido falar dela antes e se suas outras músicas tinham a mesma pegada de Just One Of The Guys: gostosa de ouvir e ao mesmo tempo, toda divertidinha e irreverente.

Chegou, portanto, a vez de ouvir The Voyager, terceiro cd da carreira solo da cantora (antes vocalista da banda Rilo Kiley), lançado em julho de 2014. No álbum, Jenny e seu violão apresentam músicas que caminham por uma miscelânea de gêneros: pop, rock, indie e até country. Pois é, principalmente o country, mas de um jeito completamente diferente do que fazia Taylor Swift em 2006, 2008, no comecinho de sua carreira. Ufa. A influência é bem mais sutil e se faz presente de modo elegante em canções como You Can’t Outrun ‘Em e Aloha & The Three Johns.

Jenny Lewis - The Voyager

No entanto, o que – de longe – mais chama a atenção nas músicas da cantora são suas letras. Composições criativas e que, por vezes, contam histórias malucas protagonizam o álbum, sendo impossível deixar que elas passem despercebidas. Ora mais divertidas, como as narrativas de Slippery Slopes e Late Bloomer, ora mais profundas, como a de The Voyager, o disco tem de tudo um pouco sem perder sua excentricidade e originalidade. Um fato notável é que a cantora cita em mais de uma canção o episódio do atentado as Torres Gêmeas, em Nova Iorque, em 11 de Setembro de 2001. Basta dar uma olhada nas letras de The New You e da própria canção que dá título ao álbum. Curioso, não?

Canções agradáveis (mas que talvez não nos tirem a respiração) compõe um álbum coeso e criativo. Quanto às letras (às vezes comuns, às vezes nem tanto), talvez seja necessário um pouquinho de dedicação afim de decifrá-las. Então, boa sorte!

Minhas 5 favoritas:

– She’s Not Me
– Just One Of The Guys
– The New You (mais calminha, é a música mais fofa do cd)
– Love U Forever
– The Voyager (além da letra que já merece atenção por si só, é umas das músicas que mais denuncia a influência country do álbum)

Dave Matthews Band, Away From The World

Dave Matthews Band é uma banda cujas músicas sempre ouço no rádio e penso: “Puxa, que bacaninha, preciso baixar a discografia deles!”. Baixei? Não. Acabei adiando e adiando este grande momento até hoje e aproveitei para ouvir, logo de cara, Away From The World (2012), oitavo (e mais recente) disco dos caras.

A música que abre o cd, Broken Things, já em seus primeiros segundos, denuncia uma das características mais notáveis em todo o álbum: a abundância de instrumentos. Algo que já se espera vide a quantidade de integrantes da banda – são cinco oficiais, incluindo o próprio Dave Matthews, e eventuais músicos convidados durante as turnês. Guitarra, baixo, bateria, metais, violinos, etc. etc. etc.. Extensa lista de instrumentos que compõe as músicas e que, nem de longe, eu saberia especificar.

Essa variedade e multiplicidade de sons, porém, podem ser atributos um tanto delicados. Ao mesmo tempo em que têm o poder de enriquecer a música, podem também fazer com que a máxima “pecar pelo excesso” seja verdadeira. É o que acontece em várias das músicas de Away From The World. Canções como Gaucho e Rooftop, começam perfeitamente bem, mas acabam se perdendo no meio do caminho (e entre tantas informações). Há momentos em que são tantos instrumentos a serem assimilados, que as músicas chegam a beirar a cacofonia. Este fato, aliado à grande extensão das composições, faz com que o disco seja, de um modo geral, um pouco cansativo.

Dave Matthews Band - Away From The World

O álbum, no entanto, configura em si mesmo uma contradição. Músicas que, por vezes, chegam a incomodar compõe o cd ao lado de outras mais tranquilas, com arranjos mais moderados. São estas canções mais lentas e muito mais agradáveis, como Mercy e If Only. A quantidade de instrumentos continua a mesma e a duração das composições permanece em torno dos cinco minutos. A impressão que se tem, portanto, é que estas músicas, apesar de manterem a mesma estrutura que ora se mostrou extenuante, seguem uma linha mais equilibrada, sem perder a essência do grupo.

São por estes motivos que acredito que as músicas mais calmas acabam funcionando melhor do que aquelas mais agitadas (e, talvez, mais ambiciosas). Porém, ainda que o disco seja um pouco complicado, ambos os estilos merecem uma chance. Ou, pelo jeito, mais de uma.

Minhas 5 favoritas:

– Mercy
– Sweet
– Belly Full
– If Only
– Drunken Soldier (mais uma contradição: a música mais longa de todo o álbum – beira os dez minutos – consegue ser surpreendentemente coesa e agradável)

Gossip, A Joyful Noise

Até o dia de hoje, eu tinha ouvido exatamente duas músicas do Gossip. Love Long Distance (aquela com o clipe famosinho, em que pessoas com cabeças de balão andam de patins em pistas iluminadas por globos metálicos, etc.) e Move In The Right Direction, recentemente apresentada a mim por um grande amigo. A segunda canção, completamente dançante, me chamou a atenção principalmente por sua letra. Perfeita para aquele momento de depressão pós-término-de-relacionamento em que tudo o que se quer é afogar as mágoas dançando. Clichê? Sim. Mas, definitivamente, uma música com a qual as pessoas acabam se identificando.

Gossip - A Joyful Noise

A Joyful Noise, álbum que abriga a canção e quinto trabalho da banda, revela que a música se encaixa bem na proposta do grupo. Formado por Beth Ditto (a vocalista), Brace Paine (o guitarrista) e Hannah Billie (a baterista), o trio é famoso pela pegada dance-rock em suas músicas. O álbum, lançado em 2012, sem dúvidas, mostra que misturar melodias dançantes com o peso dos instrumentos é mais que possível. As músicas do disco seguem essa linha, caminhando por estes dois universos com destreza. Move It The Right Direction e Get Lost, por exemplo, são mais leves. Contam com teclados e batidas eletrônicas e poderiam facilmente fazer parte da playlist de qualquer balada. Já, Melody Emergency e Perfect World, são mais intensas. O clipe – sombrio, mas nem tanto – de Perfect World consegue, inclusive, materializar essa combinação do dance com o rock’n roll. Dê uma olhada!

O que não dá pra negar, no entanto, é que a voz de Beth Ditto é mais que poderosa e dá vida as letras simples. Fáceis de acompanhar, as composições falam de cenários comuns, relacionamentos e até sobre arrumar emprego – vide Get a Job e seu verso chiclete “I’d love to stay and party but I gotta go to work” (“Eu adoraria ficar para a festa, mas preciso ir trabalhar”).

Salvo algumas exceções, a segunda metade do álbum, no entanto, me decepcionou. Involved e I Won’t Play, por exemplo, ainda que sejam dançantes, se revelam um tantinho cansativas e até mesmo comuns dentro do conjunto do álbum. Pensando nisso, me dei a liberdade de ficar na dúvida e questionar: o disco é realmente coeso ou apenas repetitivo, com músicas muito parecidas entre si? Peço desculpas, mas não consegui chegar a conclusão alguma. Acho que essa fica essa pra vocês, rs! 🙂

Minhas 5 favoritas:

– Get a Job
– Move In The Right Direction
– Casualties of War (mais lenta, a música se destaca dentro do álbum)
– Into The Wild
– Horns

Resoluções de Ano Novo: um álbum por dia

Todo fim de ano, nas vésperas da virada, a gente senta e pensa quais serão as nossas resoluções de Ano Novo. Em 2015, vou fazer academia! Não vou deixar para fazer todos os trabalhos no fim do semestre! Vou economizar! Eu sei e você sabe que nem sempre funciona. E mesmo assim, não desistimos e todos os anos repetimos o ritual e estabelecemos algumas metas para o ano seguinte. Como não podia deixar de ser, este ano estipulei as minhas resoluções e eis aqui uma delas: escutar um disco (que ainda não ouvi) por dia, já que 2014 foi um ano em que escutei muito menos música do que queria (e deveria). Pensando nisso, resolvi ir além e não só ouvir os álbuns, mas deixar registrado qual foi minha impressão sobre eles (e quem sabe, instigar outras pessoas a ouvirem coisas novas). Vai dar certo? Ah, não sei. Mas não custa nada começar, então… Voilà!

Feliz Ano Novo e que 2015 seja mais que repleto de música boa!

She & Him, Vol. 3.

Me julguem, mas quando ouvi Zooey Deschanel cantando pela primeira vez, na comédia romântica com Jim Carey Sim Senhor (Yes Man, 2008), minha reação foi de puro estranhamento. Alguma coisa naquela voz (um tanto mais grossa e aveludada do que as outras vozes femininas, com as quais estamos, talvez, mais acostumados) me incomodava. Achava que não combinava com o rosto da atriz/cantora e simplesmente não conseguia absorver o que ouvia, e consequentemente, gostar do que ouvia. Assim, quando descobri que Zooey, além de atuar, fazia parte do dueto She & Him, formado desde 2006 com M. Ward, nem cheguei a me deslumbrar. Deixei pra lá. Até que, meses atrás, ao escrever uma nota para o Na Fumaça sobre o novo cd da dupla, Classics, lançado no ano passado e composto por covers de clássicos da música, precisei ouvir efetivamente o trabalho do duo. E aí, descobri a fofura. De cara, me apaixonei por Stay Awhile, primeiro single de Classics, originalmente cantado pela inglesa Dusty Springfield. Os acordes de violão aconchegantes que abriam a música, a letra romântica, a melodia que dava vontade de dançar (do mesmo modo como a cantora dança no mais que fofíssimo videoclipe), me conquistaram. Ah, quanto amor.

Era oficial: eu havia me rendido de vez. Assim, após me deliciar over and over again com as preciosas regravações de Classics, o quinto álbum da dupla, escolhi para iniciar essa resolução de Ano Novo o seu antecessor: Volume 3. O disco, lançado em 2013, confirma minhas expectativas: fofura, fofura e fofura! Músicas animadinhas e com uma pegada romântica tomam conta do álbum. São quatorze faixas, entre elas onze compostas por Zooey e mais três covers.

She & Him -Vol. 3

Bem recebido pela crítica, o disco lança mão de arranjos tranquilos, gostosos de se ouvir, sem apresentar níveis de complexidade que pedem dedicação redobrada afim de compreendê-los. O que, na minha opinião, é uma qualidade. Arranjos rebuscados (ou, por vezes, excêntricos) são, como dizemos no popular, uma faca de dois gumes. Podem dar origem a composições fantásticas e ao mesmo tempo, a músicas que acabam sendo completamente incompreensíveis, o que nem sempre atrai as pessoas.

Cantadas quase unicamente por Zooey (M. Ward, que cuida da guitarra e da produção, solta a voz em apenas uma outra canção), as músicas poderiam facilmente compor a trilha sonora de algum filme ambientado nos anos 50 – talvez por isso Classics e seus covers tenham funcionado tão bem com a dupla. E é isso o que mais gosto nas músicas do She & Him: o duo faz algo que, na atualidade, foge do convencional. Faz o romântico como se fazia antigamente e, mesmo não sendo o que poderíamos chamar de inovador, se destaca.

Gostei de ouvir Volume 3 exatamente por isso. O cd não é nada ambicioso. Mas apesar disso (ou devo dizer, graças a isso?), é agradável, simples e prazeroso aos ouvidos. Definitivamente, não tem como ouvi-lo e não balançar o corpo no ritmo dos instrumentos, se sentindo bem. Vale a pena dar uma chance, assim como eu dei (após deixar de lado meus preconceitos malucos, rs).

Minhas 5 favoritas:

– Never Wanted Your Love
– Turn To White (daquelas bem gostosinhas, que dá vontade de dançar coladinho)
– Together
– Sunday Girl (para ouvir Zooey cantando em francês)
– London (com destaque para o delicioso piano)

Review: Paul McCartney – Allianz Parque, São Paulo – 25/11/2014

Depois de horas na fila, debaixo de muito sol e de muita chuva, ora tendo que lidar uma organização divina, ora com uma bagunça que dava vontade de sentar e desistir, os 45 mil fãs entraram no Allianz Parque na terça feira (25/11) para assistir a mais um show do velhinho rock ‘n roll mais fofo de todos os tempos: o ex-Beatle e digníssimo Sir Paul McCartney.

Em função de atrasos na abertura dos portões (o que fez com que as pessoas entrassem no estádio muito mais tarde do que o esperado), a apresentação não teve nada daquela pontualidade britânica tão louvada. Paul McCartney subiu ao palco com 45 minutos de atraso e sem frescuras já começou entoando Eight Days A Week, clássico dos Beatles, para delírio do público.

O show que, no entanto, tinha tudo para começar bombando logo de cara, se mostrou um tanto frio. A plateia parecia que ainda estava se situando naquela realidade fantástica. Nas cadeiras, muita gente ainda continuava sentada, tímida. Em Save Us, canção do último cd solo do cantor, New, a galera mostrou que não tinha feito a lição de casa. Poucos sabiam a letra e preferiram apenas apreciar a música, balançando o corpo de leve, sem grandes comoções. Nesse comecinho gelado, enquanto a plateia só se exaltava quando o cantor tocava alguma música do quarteto inglês, Paul não demonstrou sinais de decepção em momento algum, perguntando, inclusive, se as pessoas estavam prontas para festejar até mesmo na nem tão animada assim Listen To What The Man Said.

O clima só começou a virar com as guitarras carregadas de Let Me Roll It, música do álbum Band On The Run com os Wings. Agora sim: a plateia tinha acordado de vez e mais, mostrava que estava ali pra ouvir mais do que apenas hits dos Beatles, mas também as músicas da carreira independente do cantor.

Entre canções que mexiam com o público, como Paperback Writer, e músicas mais tranquilas como My Valentine e Maybe I’m Amazed (dedicada para sua “amada Linda”), o primeiro quarto do show teria sido um perfeito esquenta se não fosse pelas falhas na acústica do estádio. Ainda que o som chegasse com qualidade na pista e nas cadeiras inferiores, quem estava na parte superior do local sofreu. O som ecoava e chegava abafado, de modo que pouquíssimo se entendia do que o cantor falava, o que era realmente uma pena.

Desde o começo da apresentação, Paul McCartney mostrou que não são necessárias firulas e piruetas para conquistar o público. Cheio de carisma e simpatia, bastavam algumas palavras, por inúmeras vezes em português, para levar o estádio à loucura. Além de conversar com o público, o cantor fazia dancinhas, mandava coraçõezinhos para a plateia, correspondia aos infinitos “I love you”s gritados pelos fãs e, principalmente, agradecia a todo momento.

Quaisquer falhas, fossem na organização ou no som, e até mesmo a própria chuva que não arredou o pé durante o show foram esquecidos quando I’ve Just Seen A Face deu início a um crescendo que fez irrelevantes os preços salgados dos ingressos, estacionamentos e etc. We Can Work It Out, Another Day e And I Love Her, todas aplaudidíssimas, conduziram o público para o que seria um dos momentos mais bonitos de todo o show – e um dos muitos em que parei e pensei comigo: “esse é o ponto alto do show!” (engano meu, porque as emoções estavam só começando). Em seu violão, o ex-beatle dedilhou os primeiros acordes de Blackbird e as pessoas não hesitaram em acompanhar o cantor em um dos coros mais deliciosos de se ouvir. A aura de tranquilidade estabelecida deu espaço para que o cantor emendasse com a emocionante Here Today, homenagem já clássica de seus shows ao amigo John Lennon.

No que diz respeito ao repertório do cd mais recente do cantor no show, Queenie Eye e Everybody Out There foram as canções mais bem sucedidas, especialmente pelo jogo fantástico de luzes que acompanhou os arranjos das músicas, marcando os versos mais poderosos. Aliás, iluminação que fez da apresentação não apenas um espetáculo, mas uma verdadeira obra de arte.

Apesar da boa recepção do público com as músicas da carreira solo de Paul, é impossível negar que são as composições do quarteto inglês que mais emocionam o público. Enquanto Eleanor Rigby, mesmo com um arranjo diferente do original se mostrou brilhante, Something, homenagem ao amigo e guitarrista George Harrison (o qual dava voz à canção), foi sublime. Tocada no ukulele (e depois no violão, acompanhando a evolução – e explosão – da música), Paul conseguiu arrepiar as 45 mil pessoas que estavam no estádio e que cantavam junto, a plenos pulmões, uma das canções mais lindas do grupo.

Entre músicas que ficavam meio apagadas em um setlist cada vez mais emocionante, os momentos mais alegres do show ficaram por conta da desenterrada All Together Now (esta dedicada à “molecada”) e de Ob-la-di Ob-la-da. O que foi surpreendente, uma vez que ambas as músicas não são lá as mais profundas dos Beatles. Mesmo assim, era inevitável não perceber a onda de felicidade instalada. Em Ob-la-di, bexigas coloriram o estádio enquanto todos dançavam e cantavam o refrão repetidas e repetidas vezes.

A partir de então, Paul seguiu sua receitinha básica, apostando em tiros certeiros: Band On The Run, Let It Be (mágica, momento em que, no lugar de isqueiros, todos levantaram seus celulares fazendo o estádio brilhar), Live And Let Die e Hey Jude. Live And Let Die dispensa comentários. Ela mostra para todos que um show pode ser mais do que músicas tocadas no último volume, mas sim um espetáculo. Fogos de artifício e pirotecnias no palco deixam as pessoas extasiadas. Um momento realmente precioso. O mesmo acontece em Hey Jude, que tem um poder singular. Todos ali sabiam o que esperar: “hey jude, nananana, etc. etc.’’. E mesmo assim a música ganha tal força e poder, graças ao coral da plateia que sempre a acompanha e deixa de ser algo apenas previsível para ser mais que emocionante.

Depois do já esperado intervalinho, o cantor e sua banda de apoio voltaram ao palco empunhando bandeiras do Brasil e do Reino Unido para um bis um tanto morno, se o compararmos com o que tinha acabado de passar. Quem salva é I Saw Her Standing There, a primeira música do primeiro álbum dos Beatles, Please, Please Me. A canção faz uma ponte interessante com Helter Skelter (esta extremamente mais pesada), tocada no segundo bis, mostrando que Paul McCartney pode ser famoso por suas “silly love songs”, mas que vai muito além.

“Vocês querem mais?”, Paul perguntava à plateia já na sua segunda volta ao palco. Claro que sim. Existe alguma dúvida, meu caro? Depois de Yesterday (que tem os mesmo poderes de Hey Jude) e Helter Skelter, é a vez da trinca certeira para se encerrar um show tão marcante quanto este. Golden Slumbers, Carry That Weight e a apropriada The End faz com que a plateia sinta um misto de tristeza pelo fim do show e felicidade extrema por presenciar momentos tão especiais.

Esse é o superpoder de Paul McCartney. Com 72 anos, faz uma apresentação de quase três horas de duração. Já faz tempo (muito tempo) que fez seu primeiro show, mas faz parecer que cada um deles é a sua estreia. Não precisa provar nada, mas continua querendo agradar ao máximo. Prova de uma excitação do público que, por vezes, lembra a histérica “beatlemania” de anos atrás e mesmo sabendo dos efeitos que causa em sua plateia, se surpreende com o carinho recebido vez após vez. Mostra que está feliz por estar ali, sorri, se despede com um “até a próxima” e mostra que o verso “the love you take is equal to the love you make” é sim mais que verdadeiro.